A digitalização dos meios de pagamento acelerou fluxos, ampliou volumes e aumentou a pressão sobre instituições para conciliar eficiência e segurança.
A multiplicação de sistemas, APIs e intermediários trouxe complexidade a etapas de liquidação e reconciliação que antes eram controladas de forma centralizada. Hoje, cada transação exige rastreabilidade e conformidade, o que demanda integração entre tecnologia e regulação.
A tokenização de pagamentos responde à complexidade crescente do sistema, automatizando fluxos e ampliando a transparência nas transações financeiras.
Este artigo conta com a contribuição de Marlos Rangel Abbati, Product Owner Manager na RTM e especialista em blockchain e meios de pagamento, que analisa os impactos da tokenização na eficiência e segurança das operações financeiras.
O que é a tokenização de pagamentos?
A tokenização de pagamentos é um método no qual dados sensíveis de pagamento, como número do cartão (PAN), são substituídos por um identificador único (token) sem valor intrínseco. Nesse processo, o token corresponde ao dado original apenas dentro de um sistema seguro que mantém o mapeamento entre token e dado “real”.
A tecnologia amplia a rastreabilidade das transações, mas não elimina a necessidade de controles externos. Fraudes ainda exigem mecanismos off-chain, como monitoramento de comportamento, regras antifraude e validação pelos emissores, o que reforça a importância da governança humana sobre o processo.
Como explica Abbati, “a tokenização não foi criada para evitar fraude, mas para garantir rastreabilidade e integridade. A prevenção de fraudes continua nas camadas externas, onde se aplicam os filtros e as políticas de segurança”.
O que a tokenização de pagamentos resolve no sistema atual
A tokenização reduz gargalos nas etapas de liquidação e conciliação ao eliminar a retransmissão manual de dados entre diferentes agentes. Cada transação recebe um identificador único, o que permite cruzar informações em tempo real e reduzir inconsistências contábeis.
Para Abbati, ela traz ganhos concretos em eficiência operacional, principalmente no mercado de recebíveis, onde a conciliação ainda é um desafio. “Ao estruturar as transações em blockchain, cada operação ganha unicidade, rastreabilidade e atomicidade, o que elimina a necessidade de múltiplos sistemas intermediários”, completa.
Com blockchain, as transações passam a ter registro distribuído e auditável entre todos os participantes do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB). O modelo evita redundâncias e simplifica o controle de conformidade, criando uma estrutura mais integrada e eficiente.
Como funciona a tokenização de pagamentos na prática
A tokenização combina blockchain, contratos inteligentes e tokens digitais. O conceito já aplicado na tokenização de ativos para automatizar fluxos financeiros.
Conforme Abbati, “os smart contracts tornam processos que antes eram manuais em operações programáveis e autônomas. Regras de distribuição, liquidação e validação passam a ocorrer dentro da própria rede, sem a necessidade de plataformas intermediárias”.
O processo substitui informações sensíveis por identificadores únicos que representam valores e condições de pagamento. Com isso, as transações passam a ocorrer de forma programável, rastreável e auditável, reduzindo dependências e intermediários no sistema tradicional.
Smart contracts: pagamentos automáticos e programáveis
Os contratos inteligentes definem as regras de cada transação e executam os pagamentos automaticamente quando as condições são atendidas. Essa automação elimina etapas manuais, como confirmações entre bancos ou processadoras, e reduz o tempo de liquidação.
“O smart contract é um programa que executa as regras de um contrato previamente estabelecido”, explica Abbati. “Ele garante que a transferência e a liquidação ocorram simultaneamente, sem depender de validações externas”, completa.
Blockchain: registro imutável e compartilhado
A blockchain, tecnologia também presente na moeda digital do Banco Central (DREX), funciona como repositório das transações tokenizadas. Cada operação gera um bloco com dados criptografados, que é validado por todos os participantes da rede.
O modelo distribuído impede alterações retroativas e permite rastrear o histórico completo de cada token, facilitando auditorias e o cumprimento de normas de compliance.
Tokens: representação digital de valores financeiros
Os tokens são identificadores únicos que substituem dados confidenciais, como números de cartões ou contas bancárias. Na prática, representam o valor da transação sem expor informações reais, garantindo segurança e padronização nos fluxos de pagamento. Cada token é vinculado a um contexto específico, o que permite conciliações automáticas e mais controle sobre os fluxos financeiros.
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Desafios para a adoção da tokenização de pagamentos nas instituições
A expansão da tokenização avança em ritmo desigual entre empresas e instituições financeiras. Apesar do potencial de eficiência e transparência, a adoção enfrenta barreiras que envolvem tecnologia, regulação e capacitação profissional. A consolidação desse ecossistema ainda depende de padrões técnicos e jurídicos mais claros, além da integração com sistemas legados.
Para Abbati, o desafio está menos na viabilidade técnica e mais na maturidade do mercado. “A tecnologia já está pronta, mas ainda há escassez de profissionais especializados e dúvidas sobre privacidade e proteção de dados. É um ponto sensível para instituições que operam sob regras de compliance rigorosas”.
Segundo o relatório “Tokenization and Development Framework” do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID, 2024), a fragmentação regulatória e a falta de interoperabilidade entre redes estão entre os principais obstáculos à expansão global. A pesquisa indica que a ausência de normas uniformes e a escassez de profissionais qualificados atrasam a implementação em larga escala. Outros entraves são:
- Regulação em evolução, com lacunas sobre governança e auditoria nas transações tokenizadas, tema discutido no Projeto de Lei 2926/23.
- Dificuldade técnica de integração entre sistemas tradicionais e plataformas baseadas em blockchain.
- Incertezas sobre privacidade e conformidade em redes públicas que expõem dados a validações externas.
- Limitações de escalabilidade e desempenho em ambientes com alto volume transacional, especialmente diante de inovações recentes como o Pix.
- Necessidade de amadurecimento do ecossistema, com interoperabilidade e padrões consolidados de validação, em linha com avanços como o Pix via Open Finance.
RTM e a tokenização de pagamentos
Na RTM, atuamos como agente de integração tecnológica no setor financeiro, conectando instituições, reguladores e provedores de infraestrutura. Nosso foco é garantir conectividade, segurança e aderência regulatória para instituições que adotam modelos tokenizados de pagamento.
Com a solução Blockchain as a Service (BaaS), viabilizamos o uso de blockchain de forma simples e segura, sem que as empresas precisem manter infraestrutura própria. Nossa plataforma é compatível com R3 Corda, Hyperledger Besu e Hyperledger Fabric, o que amplia as possibilidades de uso em projetos de tokenização de valores, recebíveis e direitos financeiros.
Todas as operações são protegidas por criptografia via HSM (Hardware Security Module), que assegura a integridade dos tokens e das transações. Além disso, oferecemos conectividade direta com a Rede do Sistema Financeiro Nacional (RSFN) e com a RTM Financial Net, permitindo integração fluida com o ecossistema financeiro brasileiro e liquidações mais eficientes.
Ao facilitar a negociação fracionada de ativos e automatizar processos, contribuímos para ampliar o acesso a novas oportunidades de investimento e gerar maior liquidez no mercado. Nosso compromisso é oferecer uma infraestrutura preparada para sustentar a próxima fase da digitalização dos pagamentos no país — com segurança, interoperabilidade e transparência.
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