Transformação digital é um conceito forte, familiar para as empresas há mais de uma década. Até então, embora 92% dos líderes soubessem que devessem fazê-la em seus negócios e dirigissem esforços para esse fim, poucos conseguiam executá-la de maneira abrangente.
Daí vinha o reconhecimento de que a digitalização era ainda um movimento incompleto nas organizações, feita com base em iniciativas esparsas – às vezes muitas e em vários setores – e não uma estratégia digital ampla e coesa, pertencente a toda a empresa.
Até a pandemia, cujas consequências deixaram claro para muitas companhias falhas profundas no seu modelo de negócio – sobretudo as não digitalizadas ou com tecnologias legadas obsoletas – e uma única opção: abraçar a transformação digital, e rápido.
Mas isso aconteceu? Se sim, como? Neste post, reunimos alguns dados que ajudarão a entender o contexto atual da transformação digital nas empresas.
A pandemia impôs um novo ritmo
O modelo digital first de empresa já estava em curso, e 2020 exigiu a aceleração desse passo não tanto pela proatividade e obra de CEOs, CIOs, CDOs e posições congêneres, mas pela reação mundial a uma trágica pandemia, que passou obrigatoriamente pelo digital.
De acordo com a McKinsey, demos um salto de cinco anos em termos de transformação digital em questão de oito semanas. Isso significa que estratégias que poderiam durar anos foram comprimidas em dias.
Uma pesquisa da Twilio vai na mesma linha:
- aceleramos seis anos em estratégia de comunicação digital;
- 97% dos decisores acreditam que a pandemia acelerou a transformação digital de suas companhias de alguma maneira; e
- 79% dos entrevistados disseram que a pandemia aumentou o orçamento para transformação digital.
Agora, a pergunta é: que escolhas as organizações fizeram? Veja a seguir alguns dados para entender.
O que os dados mostram sobre o contexto atual
A transformação digital evocada pela pandemia não foi exclusiva de um setor, mas envolveu grande parte dos negócios. Além disso, ela foi ampla, incluindo no seu bojo as operações e o trabalho, assim como o consumo e o relacionamento com clientes.
Essa transformação também se deu num cenário de extrema incerteza. Embora tivéssemos certeza de que o digital seria o remédio, as doses teriam que ser cavalares e aplicadas às custas de escolhas difíceis, como queda de vendas, cortes de pessoal e de custos, ambiente instável.
Confira alguns dados que ajudam a entender esse panorama.
Digitalização de operações e trabalho
No trabalho, os níveis de home office foram históricos no setor financeiro. Segundo a McKinsey, saíram de 5% para 70% durante o isolamento social. Uma validação do modelo remoto de trabalho em escala inédita.
A fim de flexibilizar a operação para assegurar a continuidade dos negócios, mantendo todos os envolvidos em segurança, o primeiro direcionamento foi criar ou fortalecer e expandir a tecnologia e infraestrutura de trabalho remoto.
Segundo levantamento da Capterra, essa foi a uma preocupação importante para 75% dos gestores brasileiros, dentre os quais 55% investiram em novos softwares para manutenção das operações em consequência da pandemia.
Em termos de infraestrutura, vimos acesso remoto a aplicações via VPN, migração para a nuvem, adoção de ferramentas para facilitar a comunicação e a tomada de decisão, assim como o compartilhamento de informações, software de gestão de projetos e vendas, tudo isso assegurando bons níveis de segurança e de compliance.
Digitalização do consumo e do atendimento
Se antes os clientes tinham dificuldades ou pouca familiaridade com o digital, vimos certo encurtamento da curva de aprendizado. Não sem ajuda das próprias empresas: segundo o mesmo levantamento da Twilio citado acima, 95% das organizações buscaram novas maneiras de engajar seus clientes no digital, em uma abordagem multicanal.
No mundo, de acordo com o EY Future Consumer Index, quase 60% das pessoas mudaram a forma como usam os serviços bancários. Já o Fidelity National Information Services – FIS registrou aumento de 200% na ida para o mobile banking em abril, e em tráfego, de 85%. No Brasil houve, segundo estudo da Capterra, 32% de aumento no volume de pagamentos por carteiras digitais.
Além da distribuição de programas governamentais, vimos bancos, por exemplo, combinando informações sobre como usar ferramentas online em suas operações financeiras com informações sobre como se manter seguro durante a pandemia. Mais que isso, alguns ajudaram seus clientes a tomar decisões financeiras mais acertadas e a entender impactos da crise econômica sobre suas aplicações.
Transformação digital pós-pandemia
A ida para o digital ensejada pela pandemia vai continuar, afinal, aceleramos e fizemos muito em pouco tempo. De acordo com a Gartner CIO Research Circle, enquanto lidam com os efeitos imediatos da pandemia, 43% dos CIOs também já estão planejando uma estratégia de recuperação pós-pandemia. E ela se mantém no digital.
Mas quais são as preocupações em jogo?
Incentivo à migração para a experiência digital
A primeira necessidade é continuar a aprimorar a experiência digital para incentivar que essa migração seja completa.
É preciso ir a fundo nos dados para compreender a história dos usuários, a fim de identificar como e quais tecnologias podem ajudar a reduzir a curva de aprendizado e a fricção das jornadas sem contato e self-service, aumentando o nível de transparência e de qualidade.
Isso se estende aos produtos e à criação de portfólio, que podem ter mais aderência ao que o mercado demanda, com base em uma análise de dados.
Rumo a um novo modelo de trabalho
As tecnologias digitais abrem as portas para um futuro em que o trabalho remoto será contínuo para a boa parte dos trabalhadores.
Essa faceta da transformação digital impactará, consequentemente, no modo como trabalhamos, tanto em termos de extinguir e criar posições quanto de desenvolver novas habilidades – técnicas, comportamentais e digitais.
Todas essas mudanças levarão à necessidade de melhorar a experiência de trabalho remoto, ajustando metodologias ágeis ao novo modelo, assim como programas de benefícios e PDIs.
Estabilização de arquitetura e infraestrutura crítica
As organizações terão que se dedicar à estabilização de sua infraestrutura crítica, bem como de processos operacionais, que devido a aceleração do passo da transformação digital ainda estão expostos falhas e a ataques. Mais que isso, é preciso garantir sua escalabilidade e resiliência a novas crises.
Cibersegurança e gestão de riscos
Com a aceleração da transformação digital, vem também o imperativo da segurança, que será um dos grandes focos no pós-pandemia.
Não dispomos, em nível mundial, de uma política de governança para práticas e controles de ataques. Então, a tendência que é a regulamentação aumente, exigindo novas tecnologias para garantir a segurança.
Transformação digital nas empresas: rumo ao novo normal
Embora o termo “transformação” dê a ideia de um processo finito e localizado no tempo, estamos falando de algo contínuo, que deve ser incrementado ou, no limite, pivotado.
A pandemia acelerou o passo a transformação digital em todos os setores. Mais do que isso, exigiu uma abordagem ampla, que perpassa toda a organização. De certa forma, alguns problemas que poderíamos apontar nas estratégias digitais pré-pandemia – como projetos esparsos e com baixa prioridade – foram automaticamente remediados.
No entanto, vimos que esse remédio não veio sem escolhas de alto impacto sobre a organização, como repriorização de custos, corte de colaboradores, incerteza e uma série de outros efeitos que ainda estão sendo administrados pelas organizações.