Desta vez, a edição de 2020 do Ciab Febraban (Congresso e Exposição de Tecnologia da Informações das Instituições Financeiras) foi realizada de forma totalmente online devido a pandemia do coronavírus. Mais de 40 executivos e especialistas debateram, ao vivo, entre 23 e 26 de junho, sobre os impactos da crise da Covid-19 nos modelos de negócios do ecossistema financeiro.
Foram ao todo sete painéis, ainda disponíveis gratuitamente na plataforma noomis, que abordaram o protagonismo dos bancos na retomada da economia, o aumento dos investimentos em tecnologia para acelerar a transformação digital, inovações como o PIX, a importância da educação digital e da segurança cibernética, além do papel das instituições financeiras diante da crise humanitária que vivemos.
Confira o que rolou:
“Sistema financeiro está sólido e comprometido com a sociedade”
No painel de abertura, o presidente da Febraban, Isaac Sidney, ressaltou que desde o início da pandemia mais de R$ 2 milhões foram emprestados em renegociações, prorrogações e renovações de contratos para fortalecer a economia e ainda comprometeu quase R$ 1 trilhão em novas operações. “O sistema financeiro brasileiro está sólido e comprometido com a sociedade para preservar empregos e empresas”, disse Sidney.
A live também contou com a presença de presidentes de grandes bancos como Candido Bracher, do Itaú Unibanco; Octavio de Lazari Junior, do Bradesco; Pedro Duarte Guimarães, da Caixa; Sérgio Rial, do Santander Brasil; e Roberto Sallouti, do BTG Pactual. Guimarães falou sobre como a Caixa vivenciou uma grande revolução digital em poucos dias com o aplicativo Caixa Tem para o pagamento do auxílio emergencial. “Estamos falando de 64 milhões de pessoas que estão recebendo todo mês seu auxílio. Colocamos em pé um aplicativo em quatro dias. […] Ao todo, conseguimos 121 milhões de contas digitais”.
De forma geral, os presidentes das maiores instituições do Brasil acreditam que, com a continuidade da crise, o volume de empréstimos deve aumentar, assim como a requisição de novas linhas de crédito. “O momento, pelo lado do Estado, é de simplificação de regras, menos burocracia, mais flexibilidade e assumpção do risco de crédito de quem foi mais atingido pela crise”, afirmou Sidney, reforçando que é preciso ter coragem para agir rápido e certo para resolver a situação.
Canais digitais representaram 74% das transações bancárias em abril
No segundo painel, o assunto principal foi o aumento da digitalização dos pagamentos durante a pandemia. De acordo com a Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária, realizada com a consultoria da Deloitte, um mês após o início da quarentena, canais digitais, como internet e mobile banking, foram responsáveis por 74% das operações bancárias realizadas em abril.
“É aquela transformação digital que a gente vinha falando, mas não havia clareza de até onde ela era capaz de ir. […] Tivemos a grata surpresa agora de verificar que superamos a quantidade de transações por canais digitais, com o mobile banking assumindo a dianteira”, comentou Adriano Matias, Diretor-Executivo, Digital e Arquitetura de TI da Caixa.
Segundo Marcelo Frotini, Diretor dos Canais Digitais e Experiência do Cliente do Bradesco, 97% das transações do banco já são feitas em canais digitais. “A grande maioria ainda é para pagamento de contas, transferências de dinheiro, consultas de saldo etc. Mas avaliamos que a pandemia está mostrando que é possível acelerarmos para fornecer transações mais complexas, como contrato de crédito, com assinatura por meio digital”. Fernando Kontopp, Diretor de TI do Itaú Unibanco, afirmou que a adesão aos serviços via digital foi muito grande e que clientes que ainda não se sentiam tão confortáveis, passaram a fazer uso do internet banking ou mobile banking. ”Como oferecemos uma experiência muito boa e segura para os clientes, acreditamos que uma vez que comecem a usar esses canais, eles adotarão esses novos hábitos”, comentou.
“O PIX pode acelerar a retomada da economia pós-coronavírus”
O sistema para pagamentos instantâneos do Banco Central, PIX, vai mudar para sempre o setor de meios de pagamentos no país, mas, além disso, pode ser um impulsionador da retomada econômica, segundo o diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução do Banco Central, João Manoel Pinho de Mello. “PIX é uma oportunidade no que se se refere ao comércio. É um condão de redução de custos de transação. E tudo o que diminui o custo de transação potencializa o crescimento”, exemplifica o diretor.
Com o PIX, dez transações consumirão um centésimo de centavo, um custo bem competitivo. Além disso, o ganho de eficiência será um fator importante, já que não precisará esperar cair o pagamento, será em questão de segundos. Foi o que Ivo Mósca, superintendente de Open Banking & Pagamentos Instantâneos do Itaú Unibanco, explicou, pontuando que pequenos empresários serão melhores atendidos com o PIX. “Em muitos negócios, a compra da maquininha inviabiliza o uso dos sistemas eletrônicos de pagamento”.
Ao longo da transmissão, Mello também reforçou que dois outros grandes projetos do BC – Open Banking e Sandbox Regulatório – continuarão com a agenda planejada mesmo diante da crise da Covid-19. “Não há razão para adiar o andamento. O sistema financeiro precisa estar forte e organizado durante a retomada”, comentou Mello.
Experiência com o digital reforça a necessidade de investimento em tecnologia
O aumento do uso de canais digitais fez clientes de tornarem mais exigentes em relação à experiência que têm em aplicativos, segundo Estevão Lazanha, diretor de Engenharia de Canais do Itaú Unibanco. “Estamos colocando a TI a serviços dos clientes”, disse. O executivo também ressaltou que a instituição está passando a se apoiar mais na inteligência artificial e em dados analíticos para fornecer mais simplicidade e conforto aos consumidores.
Já Maurício Minas, membro do Conselho de Administração do Bradesco, destacou que o banco vem adotando medidas como reforço no uso de metodologias ágeis dentro do banco, investimento em arquitetura de microsserviços e ampliação de nuvem híbrida para processar um maior volume de dados. “O setor financeiro brasileiro é referência por ser um dos que mais utiliza tecnologia de ponta”, afirmou Gustavo Fosse, diretor de Tecnologia do Banco do Brasil. Para ele, durante a pandemia, os clientes puderam explorar essa capacidade das instituições financeiras, mas no pós, os desafios serão maiores, com a entrada do open banking e a chegada do 5G. “É preciso estar constantemente em processo de inovação, estabelecer parcerias e ouvir mais o cliente.”
”Educação digital é um aprendizado e o caminho mais eficaz”
No painel “As novas tentativas de fraudes e ameaças cibernéticas durante a crise”, o head de Corporate Security do Itaú Unibanco, Adriano Volpini, ressaltou que o investimento em tecnologias, como biometria facial e presencial, senha randômica e algoritmos, dentro dos bancos precisa vir junto do processo de conscientização do cliente em relação à segurança de seus dados.
O isolamento social e a adesão da maioria das empresas ao home office acabaram por tornar golpes virtuais, especialmente de engenharia social, ainda mais frequentes neste período de pandemia. “São casos em que uma checagem mais atenta do cliente desmascararia o criminoso. Até mesmo os clientes que já nasceram no mundo digitalizado clicam inadvertidamente em links enviados pelo WhatsApp”, afirma Bruno Fonseca, superintendente-executivo de Prevenção a Fraudes do Bradesco. Jorge Krug, head de TI do Banrisul, ressaltou que nos próximos meses o setor financeiro terá um desafio ainda maior com a chegada do PIX para garantir a segurança dos dados trafegados.
“Aceleramos uma década na transformação digital”
No painel que reuniu fintechs, bancos tradicionais e os nativos digitais, o tema que norteou a discussão foi a importância de somar forças para poder inovar, entregando ao consumidor serviços mais eficientes e rápidos. “Podemos dizer que aceleramos uma década na transformação digital e que daqui para frente a necessidade de geração de inovação de maneira cada vez mais rápida será uma questão de sobrevivência para todas as empresas”, afirmou Guilherme Horn, diretor de Estratégia e Inovação do Banco BV.
Para Darlan Costa, superintendente nacional Digital da Caixa, parceria foi a palavra-chave nessa corrida. “Foi graças a esse movimento que conseguimos nos comportar como uma grande fintech nos últimos meses. Em menos de 60 dias, abrimos 50 milhões de contas digitais”. Conhecer o novo comportamento do consumidor, mais acostumado com os meios digitais, é um importante fator para ter mais assertividade. Rogério Panca, head de Cartões e Pagamentos Digitais do Santander Brasil, acredita que a pandemia deve consolidar algumas tendências, como a renegociação de dívidas sem intervenção humana, pagamentos por aproximação e uso de cartões virtuais para compras específicas via e-commerce.
Renovação no modelo de atuação dos bancos e o “novo normal”
O painel “A transformação cultural do sistema financeiro e o papel social dos bancos” encerrou a 30ª edição do Ciab com um debate sobre as principais mudanças e ações promovidas pelas instituições financeiras, devido a pandemia da Covid-19, no auxílio aos pequenos empreendedores e na aproximação com as pessoas. O índice de bancarização registrado pela Caixa nesta crise foi o maior de todos os tempos. “Incluímos quem estava à margem do sistema financeiro, que agora pode pagar suas contas, fazer transferências, sacar dinheiro em casas lotéricas, sem nenhum custo. Um papel importante agora e para o futuro”, disse Paulo Souza.
De acordo com os executivos, uma das principais medidas adotadas para clientes foi o investimento em alongamento de dívidas, especialmente às PMEs, e mais prazo para crédito imobiliário, visando viabilizar a continuidade de inúmeros negócios e dar fôlego à economia. Já em relação aos colaboradores, a preocupação foi com a segurança das pessoas, adotando o home office na maioria dos casos e equipamentos de proteção aos profissionais em agências.